Em latim, a palavra "audax" significa "audácia". E audácia é uma das muitas características atribuídas ao técnico da sensação do Campeonato Paulista desse ano. Fernando Diniz, 42 anos, teve a audácia de chegar a final do campeonato sem nunca deixar de apresentar sua filosofia de jogo: posse de bola, compactação e movimentação, por exemplo, são algumas das principais características do time do Audax. Chutões de longa distância? Coisa rara.
Mas não foi fácil chegar até aqui. Em 2014, jogando com a ousadia de hoje, o Audax perdeu para o São Paulo por 4x0 e virou chacota da competição. Já para Diniz, o episódio passou a ser de felicidade: "Todo mundo ficou falando do resultado, mas, se você for ver as estatísticas do primeiro tempo, nós tivemos sete chances de gol no Morumbi contra duas ou três do São Paulo, e todas elas geradas em erros nossos. No segundo tempo, tivemos um jogador expulso logo no início, e depois um gol de cabeça, e aí tudo desandou".
Os críticos o chamaram de "louco", mas, o técnico manteve a convicção no próprio trabalho: "A questão é que se você tem convicção no seu trabalho, você só cede se for muito covarde. Não é o meu caso. Sou apaixonado por futebol e tenho convicção no que estou fazendo".
Os que acham que o treinador é um super estudioso do futebol europeu, enganam-se. Quando está de folga, Diniz gosta de ver jogos de Bayern e Barcelona, mas não faz muito esforço pra isso, se esforça para ver os possíveis adversários. Além disso, gosta sempre de afirmar que sua grande inspiração são os próprio jogadores: "A minha inspiração são os grandes jogadores. Tudo o que faço é para que o jogador possa ser o Pelé que queria ser. Minha inspiração é ver o jogador atuando bem, de maneira alegre, com plasticidade e de maneira competitiva".
Fernando é um defensor do futebol e dos jogadores brasileiros, é contra o vitimismo e generalização do 7x1: "O resultado macula muita coisa. Parece que está tudo errado, que não existe jogador, que nada presta. Acho que tem muita coisa para mudar, mas temos o essencial, que são bons jogadores". E completa: "Precisamos elaborar um jeito de tirar o melhor dos jogadores e dar muito apoio para que joguem bem coletivamente. O problema está muito mais na questão humana e social que na questão tática e coletiva. Quem tem mais escolaridade tem mais facilidade para entender o jogo coletivo. O cara que cresceu com liberdade na rua tem mais relutância para entender e aceitar".
Fernando Diniz é o sonho e o pesadelo de todo torcedor brasileiro. Um torcedor que quer ver jogo bonito, compacto, pensado e habilidoso, mas é impaciente, quer resultados a curto prazo e que jamais daria o tempo necessário, como Audax e sua torcida deram ao técnico, para executar um trabalho bem feito. Se o Audax será campeão? Não sabemos. Se Diniz terá pela frente uma carreira de sucesso? Também não. Mas já podemos ter a certeza de que temos o que pedimos para ter.
No fim das contas o técnico tem demonstrado que o louco não é ele, loucos são os outros...